Vale tudo por likes e risadas?

Humor, palavra derivada do latim que significa líquido, fluido. Será que essa liquidez se esvai facilmente, assim como os likes e risadas?

Diante deste questionamento e acontecimentos atuais, refleti sobre diversas situações nas quais relatos e textos classificados como “comédia” ou “piadas” a todo custo deturpam e ironizam um crime que não é engraçado, como o racismo, o processo de colonização e as consequências da escravização de pessoas negras. Esse “humor” tão defendido por comediantes e grandes mídias tem nome: RACISMO RECREATIVO.

Para entender este conceito (e crime) é preciso relembrar o que é preconceito, discriminação e racismo:

  • Preconceito é uma opinião precipitada, não baseada em dados objetivos. Implica na formulação de ideias sobre uma pessoa sem conhecê-la.
  • Discriminação é o tratamento desigual, que visa separar pessoas ou grupos de pessoas, normalmente em razão de preconceito.
  • Racismo é a teoria que tenta estabelecer hierarquia entre raças (ou etnias). Sua prática constitui crime inafiançável e imprescritível no Brasil, conforme previsão da Constituição Federal (artigo 5º, XLII) e da Lei nº 7.716/1989.

O Racismo Recreativo foi um termo criado pelo jurista Adilson Moreira, autor do livro “O que é racismo recreativo?”, e refere-se a uma prática de racismo disfarçada de “humor” e, por isso, pretensamente acobertada e muito difundida na sociedade.

Alguns acontecimentos, amplamente difundidos na mídia, podem ser elucidados como exemplos de racismo recreativo:

  1. O primeiro envolve o processo que acusou o youtuber Júlio Cocielo por racismo devido ao comentário sobre o jogador de futebol Kylian Mbappé: “Mbappé conseguiria fazer uns arrastões tops na praia, hein”. Além de outras “piadas” de cunho racista que foram divulgadas nas redes sociais do réu.
  2. O segundo exemplo ocorreu no programa de entretenimento Big Brother Brasil 21, quando o participante Rodolfo fez um comentário hostil sobre o cabelo de outro participante, com o intuito de fazer “humor”. A “piada” era ofensiva, pois ridicularizava o colega justamente por uma característica fenotípica.
  3. E o mais recente é o caso do humorista Léo Lins, que fez um show regado a ridicularização de grupos minorizados, dentre eles pessoas escravizadas.

“Ah, mas é só uma ‘piada’! Então, vale tudo e temos que aceitar? Cadê o senso de humor? Não consegue ter jogo de cintura e separar as coisas?”

Me surpreende ter que responder tais questionamentos, já que as pessoas ridicularizadas nos comentários e nestes “shows” pertencem apenas a grupos minorizados. Isso me remete as arenas do Coliseu Romano, onde a plateia ria e aplaudia, da mesma forma que nos shows atuais, quando os gladiadores eram jogados aos leões e massacrados.

Qual é o propósito de postar textos incríveis, com lindas palavras e hashtags em alta, no LinkedIn e nas demais redes sociais, quando isso é proporcionalmente contrário ao que você pratica e realmente acredita?

Uma reflexão e conselho que ofereço a quem escolhe ir a um show como esse é:

“Quando você não tiver um exemplo, seja você o exemplo!” (Majur)

Reflita. A partir de hoje, que exemplo você dará? Qual será sua atitude para mudar o sistema?


Por: Camila Freitas


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